“Lá é um milagre, né? Um milagre de Deus a gente ter uma coisa tão importante no lugar de nós. Uma pedra abrir e formar o que formou a Lapinha, é mesmo uma coisa abençoada. Deus fez aquilo ali, é uma coisa de ver e ficar impressionado. Uma casa é feita porque o homem tem que fazer, lá não, lá Deus fez e deixou pronto pra todo mundo vê”
Cresci na pequena cidade de Santo Antônio do Itambé, origem da minha família paterna. Pelas ruas, não se passa por alguém sem ao menos acenar com a cabeça e aos mais velhos pedir a benção. Os encontros eram nos dias de missa e festas da igreja. A paisagem diária era a Serra do Itambé, onde bebi água direto das nascentes e tomei muitos banhos de cachoeiras. Já na roça, a alegria era fazer quitandas, tirar leite da vaca, tratar das galinhas e apanhar fruta no pé. Mal sabia que já se formava em mim um “espírito geográfico”.
Retornei para a cidade grande, acredito que não por acaso, estudei a Ciência Geográfica e aprendi o que é Topofilia – neologismo ao elo afetivo por um lugar. O geógrafo Yi-Fu Tuan (1980) resumiu em uma palavra tudo o que experimentei em minha infância e o amor que foi construído pelo lugar e pelas pessoas desse lugar. Decidi então que seria isso o que iria continuar a estudar com o mestrado: “Mas… e o projeto?” A abordagem é humanista cultural, questionando como os elementos da natureza são percebidos e sacralizados pelas pessoas, foi aí que conheci a tese do professor Travassos (2010) sobre cavernas de importância cultural, e lá na comunidade Bagres em Santo Antônio do Itambé têm a Lapinha e a Festa da Lapinha.
A Lapinha faz parte da relação de identidade da população com o lugar, que é frequentemente visitado pelos moradores de Bagres e de comunidades vizinhas à procura de um contato íntimo com o sagrado. Esses fiéis católicos realizam peregrinações em promessas, pedidos e agradecimentos às graças concedidas pelo Senhor Bom Jesus da Lapa.
Te convido a conhecer essa experiência comigo!