Narrativa fundacional da tradição do Candombe

Narrativa fundacional da tradição do Candombe
Lapinha – Lagoa Santa/MG

“Os Negros eram obrigados a praticar a religião católica (rezarem e cultuarem os santos do catolicismo).

 Nª Senhora intercede em favor dos Negros, aparecendo nas águas na praia do Mar, com o propósito de que só sairia das águas e iria para a igreja quando viesse o grupo mais humilde, e estes seriam os candombeiros.

Esgotadas todas as tentativas, foi chamado o Candombe, e os candombeiros inspirados por Nª Senhora fizeram mais três instrumentos e foram ao local. Chegando lá, pediram permissão ao Rei de Congo, e este permitiu. Os candombeiros se ajoelharam e rezaram.

 “, Minha Mãe, vamos para a igreja, aqui a Senhora não pode ficar, a Senhora não pode moiá”. Naquele momento. Nª Senhora responde: “Como que sou sua mãe, você me conhece, Eu não tenho nome, nem sou batizada”. Ela queria um nome, para que com este nome ela fosse a Mãe e a Protetora dos Negros e todos os simples e humildes.           

Chegando na igreja, o Candombe e o trono coroado levam Nossa Senhora do Rusáro até ao altar, e a partir daí os Negros tiveram permissão para entrar na igreja”.

(Manuscritos do Capitão David).


Eles se ajoelharam e rezaram ao ritmo dos tambus.

Ave Maria ia
Ave Maria ia
Pai Nosso
Que estais no céu
Ave Maria ia
O capitão levantou e disse:
Hó minha Mãe
Não fique nas águas
A Senhora não pode moiá
Vamos pra igreja
Naquele momento ela responde:
Como que sou sua Mãe?
Você me conhece?
Eu não tenho Nome,
Nem sou Batizada

Canto proferido pelos candombeiros para retirar a santa das águas.
(Caderno de anotações do Capitão David).

“O nome candombe é originário da África. Existia nas tendas das tribos africanas um instrumento de nome candombe. Isso foi criado dentro das tribos. O primeiro instrumento de nome candombe, que era usado nos momentos em que os negros, eles evocava seus ancestrais, a divindade é sua … e seus deuses chamados orixás. Então nos momentos que fazia essas louvação, que essa tenda, ela tinha o curandeiro onde fazia essas evocações para os trabalhos espirituais de cura, de coisa desse tipo de louvação. Então, existia esse instrumento que o nome era candombe. Quando os negros foram tirados da África, levados para países que estavam sendo colonizados por católicos, então eles tinham os seus candombe que nas senzalas eles fizeram esse instrumento, que nas tribos de nome candombe. Então nas senzalas primeiro, primeira coisa que eles fizeram foi esse instrumento que tinha nas suas tribos. É… então, esse candombe fazia com a mesma finalidade nas tribos, era nas senzalas, eles continuavam cultuando seus ancestrais, seus deuses, suas divindades, mas eles eram proibidos de entrar na igreja.

(ALVES, 2017, p. 71)


Candombe (var. Kikongo: (ka)nnombe): manifestação de religiosidade afro-brasileira de origem banto em Minas Gerais, com vocabulário predominantemente umbundo, em que se observam práticas católicas e uma comunidade liderada pelo Rei Congo. Ver candombe(i)ro. Cf. candomblé. Kik./Kimb. kandombe, reza, louvação.

(Yeda Pessoa de Castro, p. 195).