Baixo Peruaçu

Sala 2 - O TEMPO DAS FAZENDAS DE GADO

Muito antes da chegada dos pesquisadores ao vale do rio Peruaçu, as “coisas do passado” – grafismos rupestres, instrumentos em cerâmica e mesmo os abrigos em rocha – já guardavam significados e usos diversos, atribuídos pelas populações que lá residem. Etnografias realizadas junto aos Xacriabá atestam que a arte rupestre presente no Peruaçu indica aspectos do cotidiano deste povo, sobretudo do modo de vida dos indígenas mais velhos, de sua relação com a natureza, das artes e ofícios, de seus rituais, bem como das práticas da agricultura e da caça.

Residentes das antigas fazendas de gado que vigoraram no Norte mineiro até meados da década de 1980, também relatam os diversos usos atribuídos aos abrigos em rocha:

Baixo Peruaçu

Era só quando ía trabalhar que o povo acampava nessas cavernas. Muitas dessas cavernas já foram usadas como acampamento de trabalhador. Aquela ali mesmo, dentro dela era cheio de cavalete, madeira, que o povo vinha pra cá plantar feijão e naquele tempo chovia bem, aí pra não perder, porque se molhasse muito perdia, não tinha lugar pra guardar, aí eles secavam o feijão dentro das cavernas, acendia fogo...
Era cheio de palheiro, o povo dormia lá. Pra lá também tinha uma, a Boquete: tudo o povo morava, passava uma temporada

Sr. Luis,
Terra Brava

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Até meados da década de 1990, o tempo das fazendas foi vivido com vigor por muitos moradores do vale do Peruaçu. Em 1999, com a chegada do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu (unidade de conservação ambiental que restringe a permanência e desempenho de atividades agrícolas pelos moradores que ali residiam), antigas relações de trabalho deram lugar a novos regimes técnicos, econômicos, políticos e afetivos no território, desafiando os atores ao reposicionamento de suas práticas e instaurando novos modos de interação social.

...então o povo tinha medo de caverna. Era um lugar assim, que o povo tinha respeito, tinha reverência. Eles sabia que aquilo ali era alguma coisa estranha, só que não tinha valor de cultura, não tinha turismo, não tinha nada. Aí depois foi que vieram as pessoas pesquisando. Aí começou a trazer pessoas... Aí depois começou a vir visita, viu que era uma coisa importante, aí começou a desapropriar pra virar Parque. Os fazendeiro também cuidava disso. Essa área aí tudo era cheio de fazenda e naquele tempo o fazendeiro era muito respeitado, era armado, ninguém entrava, ninguém invadia.

Sr. Joaquim,
Fabião I

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