Uma das mais importantes comunidades inseridas no vale do Peruaçu é Fabião I, a “porta de entrada” para o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. A comunidade, com cerca de 600 moradores, está situada no baixo curso do rio Peruaçu, cujas águas serviram de fundamento para a conformação das territorialidades ali presentes. Ainda que diversas transformações socioespaciais tenham ocorrido nos últimos anos, atividades ligadas a antigas práticas agrícolas e culturais são ainda desempenhadas: o plantio de mandioca para confecção da farinha; o artesanato em cerâmica; dentre muitos outros.
Localizada na parte mais baixa da bacia do Peruaçu, já na planície do rio São Francisco, os moradores de Fabião I expressam dificuldades cada vez maiores de abastecimento hídrico:
Nós tamo com problema sério de água. Graças a Deus que nós tamo com o poço artesiano aqui que segurou.
Peruaçu cê não contou mais com ele. Cê não contou mais com o Peruaçu! Eu ando aí nessas cavernas, no Janelão, tem parte lá que tá com 10cm. Muito rasinho. Então cê não confiou mais nele, na água do Peruaçu.
Agua pra beber, pra puxar. E ele parou tudo! Nunca vi isso daqui ó: pé de coco morrendo, morrendo muita aroeira, poço artesiano secando, roça morta, capim que não sai. O povo teve que vender o gado tudo!
Sr. Joaquim,
Fabião I
No fundo dos quitais das casas de Fabião I, ficaram as marcas de um rio que um dia passou por ali. A falta de água se mostrava fluindo por entre os diferentes dilemas vividos cotidianamente pelos moradores de Fabião I, inquietação que podia ser sentida logo nos primeiros diálogos que iniciávamos por lá. Somada à escassez hídrica, a chegada de uma nova lógica político-econômica ao território instaurava dúvidas em relação ao presente e ao futuro da comunidade. Perseguindo este incômodo coletivo, seguimos rumo às nascentes do rio, em busca de pistas que pudessem apontar motivos para a seca tanto do rio, quanto das possibilidades de vida que a escassez de água encerrava.