Sebastião Salgado

Esta sala, em homenagem ao fotógrafo Sebastião Salgado, exibe 21 fotos que representam os principais trabalhos deste artista reconhecido mundialmente, além de uma mostra do vídeo Êxodos.

Nascido na cidade de Conceição do Capim, Vale do Rio Doce-MG, Sebastião Salgado é um dos mais importantes fotógrafos do mundo. Com vários livros publicados, o artista registra com sua câmera – sempre em preto e branco – aspectos da vida humana com rara sensibilidade, emoção e uma profunda responsabilidade ética e social.

O fotográfo

Texto de Maria Beatriz Coelho

 

“Talvez alguém tenha a impressão de que as fotografias deste livro mostram apenas o lado sombrio da humanidade. Na realidade, é possível vislumbrar alguns pontos de luz na penumbra geral. (…) Temos a chave do futuro da humanidade, mas para poder usá-la temos de compreender o presente. Estas fotografias mostram parte desse presente. Não podemos nos permitir desviar os olhos.” (Salgado, Êxodos, p. 14-15)

 

Um sonhador que sai pelos continentes registrando os problemas e dramas dos homens. Um economista que se expressa pelas imagens. Um viajante incansável, que faz de sua vida uma jornada em busca de um mundo mais fraterno, onde a solidariedade tenha mais importância do que o mercado, o capital. Este é Sebastião Salgado.

Atualmente um dos mais prestigiados fotógrafos do mundo, Sebastião Salgado nasceu numa fazenda perto de Aimorés, no Vale do Rio Doce, em 1944. Seu pai mudara-se para a região – conhecida por sua violência e pela pobreza da maioria de sua população – em 1930, por problemas políticos. Por morar próximo à divisa dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, Sebastião Salgado seguiu o caminho dos conterrâneos que possuíam um nível de vida mais elevado do que a maioria da população da região, extremamente pobre: foi terminar o secundário e fazer curso superior em Vitória.

Estudando economia na Universidade Federal do Espírito Santo, conheceu e se casou com a futura arquiteta Lélia Deluiz Wanick, em dezembro de 1967. Assumidamente um homem de esquerda, tem militância política desde os anos da universidade. Sua obra é marcada pela crítica contundente aos males do capitalismo e da globalização. Colabora ativamente com movimentos sociais e organizações humanitárias, como o Médicos Sem Fronteiras, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Anistia Internacional.

Em 1979, seguiu para Paris, por causa da repressão que se seguiu à decretação do Ato Institucional N° 5, em 13 de dezembro de 1968. Foi lá que Lélia comprou uma câmara fotográfica. Sebastião Salgado acabou ficando com a câmara da esposa. O casal participava do comitê de ajuda aos brasileiros que chegavam à França vítimas de perseguição da ditadura. Em 1971, com o doutorado na Université de Paris, trocaram a capital francesa por Londres, onde Sebastião passou a trabalhar na Organização Internacional do Café.

Mas a carreira do economista estava para se encerrar: em 1973, Sebastião Salgado se mudou definitivamente para Paris e se profissionalizou como repórter fotográfico. Fez um trabalho de documentação na região africana do Sahel, na Etiópia, fotografando o sofrimento da população por causa da seca e da fome. Cobriu a Revolução dos Cravos em Portugal, a ascensão da Frelimo em Moçambique, o julgamento dos mercenários de Angola, o sequestro de Entebbe e a atuação do IRA na Irlanda.

A ditadura brasileira cassou seu passaporte em 1976. Entrou com um mandado de segurança e, sete meses depois, conseguiu o documento de volta. Em 1977, fotografou a América Latina pela primeira vez, para a Christian Aid. Em 1979, entrou para a Magnum, a mais famosa agência de fotojornalismo do mundo.

Foi pela Magnum que partiu para Washington para fazer uma reportagem sobre os primeiros 100 dias do governo de Ronald Reagan. Tornou-se o único fotógrafo a registrar o atentado contra o presidente dos Estados Unidos. A foto foi vendida para jornais e revistas do mundo inteiro e ele ganhou um bom dinheiro, que lhe permitiu investir em trabalhos autorais. Passou a trabalhar apenas com fotos em preto e branco. Anos depois criou, com Lélia, a Amazonas Images, empresa encarregada da produção, organização, divulgação e comercialização do trabalho do fotógrafo.

Em 1984, voltou ao Sahel, na África, onde passou quinze meses documentando os efeitos devastadores da seca, trabalhando junto com o Médicos Sem Fronteiras. O resultado desse trabalho foi publicado em 1986 na França, com o título Sahel: l’homme en détresse, em benefício do Médicos Sem Fronteiras. Ganhou o prêmio Oskar Barnack, da World Press Photo, na Holanda, como a reportagem humanitária do ano. A partir de então, recebeu os mais importantes prêmios de fotografia do mundo. Ainda em 1986, lançou Outras Américas, com fotos feitas no México, Peru, Brasil, Bolívia e Equador, entre 1977 e 1984, nos Estados Unidos, na França e na Espanha.

Em 1987, Sebastião Salgado iniciou um projeto ambicioso: Trabalhadores. Com olhos de economista, ele voltou suas lentes para as transformações que estavam ocorrendo no mundo do trabalho, registrando trabalhadores em ofícios que, segundo ele, estavam em extinção. O livro foi lançado em 1993 nos Estados Unidos e Europa e três anos depois no Brasil, com o título Trabalhadores: uma arqueologia da era industrial.

Terminado o projeto Trabalhadores, Sebastião Salgado se envolveu em outro, ainda mais grandioso: documentar as grandes migrações, os refugiados das guerras, da fome, o êxodo rural, o inchamento das grandes cidades do Terceiro Mundo. Depois de seis anos de viagem do fotógrafo por 40 países de todo o mundo, o público pôde ver o resultado desse trabalho em Êxodos e crianças de êxodos, com edições e exposições simultâneas seguidas de debates, em vários países, no ano de 1999. Mais do que um lançamento, o que se viu foi uma manifestação política, com a clara intenção de levar espectadores e leitores a uma tomada de consciência, uma chamada à ação.

Durante os anos em que se dedicou à pesquisa, Sebastião Salgado esteve várias vezes no Brasil. Numa delas, em abril de 1996, aconteceu o massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, quando 19 acampados do MST foram assassinados pela Polícia Militar. Impressionado com a violência no campo e entusiasmado com a ação do MST, ele resolveu adotar uma atitude clara em seu apoio: lançou, em 1997, o livro Terra, o primeiro e único dele com fotografias só feitas no Brasil. Dedicado às “milhares de famílias de brasileiros sem terra que sobrevivem em acampamentos improvisados às margens das rodovias, lutando, na esperança de um dia conquistar um pedaço de terra para produzir e viver com dignidade” (Salgado, Terra), o livro tem introdução de José Saramago, e vem acompanhado de um CD com músicas de Chico Buarque de Holanda cantadas por Chico e Milton Nascimento. Durante seu lançamento, foram feitas exposições e debates em vários lugares do país e do mundo. Cópias das fotografias foram transformadas em pôsteres e doadas para instituições humanitárias.

Em 1999, junto com sua mulher, Lélia, fundou, em Aimorés, o Instituto da Terra. Seus objetivos são retornar à Mata Atlântica e ao Vale do Rio Doce com toda a sua rica diversidade e estimular o desenvolvimento social ecossustentável na região, evitando o êxodo e trazendo de volta os que foram obrigados a emigrar. O instituto procura se tornar um centro de excelência nas áreas de recuperação e educação ambiental, desenvolvimento sustentável e mobilização social. Além da humanidade, Sebastião Salgado também trabalha para salvar o planeta.

 

 

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