Fazendo uma apresentação física da Lapinha, ela se formou em uma região cuja litologia predominante é o quartzito, em que o grau de solubilidade da rocha e o tipo de intemperismo determinam sua existência e condicionam sua morfologia. A dissolução do quartzo ocorre com o processo de hidratação da sílica (SiO2) para formação do ácido silício (H2SiO4). O dióxido de carbono da matéria orgânica e húmus, aumenta ainda mais a acidez desta água e seu poder de dissolução, no entanto, rochas siliciclásticas como os quartzitos não são dissolvidos facilmente. Tendo em vista a grande estabilidade do quartzito, a compreensão mais completa de como ele é dissolvido depende de uma análise integrada do aspecto hídrico, geológico, geomorfológico e climático, que atuam em conjunto ao longo do tempo geológico, o que se pode inferir é que essa água será mais agressiva justamente nos níveis onde há maior quantidade de minerais como a mica, que são mais facilmente dissolvidas (BENTO et al., 2015).
O tectonismo, que expôs as rochas do complexo Espinhaço, atuou formando dobras, fraturas e falhamentos. São justamente nessas descontinuidades que um possível processo de carstificação pode ocorrer. A água dissolve primeiramente os minerais mais “frágeis”, formando os condutos. A topografia e o desnível do terreno aumentam a velocidade da água, potencializando seu poder erosivo, favorecendo a formação de uma rede de condutos cilíndricos ou tubulares de diferentes tamanhos. Essa ação da água, que também pode contar com a ação das raízes das plantas no alargamento dos espaços, dá forma às cavernas (TRAVASSOS, 2019)
De acordo com o professor Travassos (2019), o processo cárstico é o mais comum para a formação de uma caverna e o termo tem origem das palavras Kras (Esloveno) e Karst (Alemão), que se referem a região carbonática entre a Eslovênia e Itália, local onde se iniciaram os estudos sobre o carste. A dissolução e a morfologia originária são importantes critérios para se definir a presença de um relevo cárstico, porém, sob condições físico-químicas apropriadas, qualquer tipo de rocha pode se dissolver em algum grau de intensidade. Portanto, pode ser considerada carstificável, e apresentar formas típicas similares àquelas encontradas na região do “carste tradicional”. Desta forma, o termo “carste não-tradicional”, é melhor para identificar litologias menos solúveis, como quartzitos e arenitos, que, em certas condições ou situações morfoclimáticas, desenvolvem feições semelhantes ao carste tradicional (TRAVASSOS, 2019).
Pela imagem do Google Earth (2020), é possível visualizar a localização da gruta e sua elevação em relação a praça da comunidade. A entrada da Lapinha está a 830m na vertente sudoeste de um morro de 900 m de elevação, cujo nível de base é o Córrego Brasileirinho, que em suas margens a comunidade Bagres se formou. A entrada da Lapinha está em uma área de desnível, gramado e enfeitado com bandeirolas coloridas, em que a parte de baixo conserva a vegetação decidual e a nascente, com água apenas nos períodos de chuva. Acima está a parede do afloramento rochoso com a abertura da caverna e a parte superior do afloramento é coberto pela densa vegetação Mata Atlântica.
Uma cruz de madeira, pintada de branco, e uma árvore com grossa raiz que se apoia no afloramento em direção ao solo, apresenta a entrada do espaço sagrado.
A parte do salão identificada como a entrada, em seu canto esquerdo, era um local onde a água se empoça e que atualmente encontra-se totalmente seca. Essa água tida como sagrada, fluía pelo chão em contato com a parede que surgia de uma abertura na parte mais interna do salão, neste local ainda é possível identificar umidade. Ao lado dessa pequena abertura e ao centro do salão foi construída uma estrutura de alvenaria para ser o altar.
A caverna possui forma triangular com 3m de altura e 2,2m de largura em sua entrada. O único salão, também em forma triangular, possui 26,2 m de comprimento, altura aproximada de 6 m ao centro e 8,5 metros de largura.
“E muita gente fala que ela está fechando, você viu? Você prestou atenção se está? Eles estão achando que a porta dela está fechando. Eu fico com medo da gente ir lá e entrar lá dentro, e se for verdade mesmo, esse trem fechar com a gente lá dentro, lá” (Tereza, outubro de 2020).
“Diz que lá vai aprofundando pra lá, e diminuindo a entrada. Aí eu não sei, porque faz tempo que não vou lá” (Luciano, outubro de 2020).
Como visto na descrição de formação das cavernas quartzíticas, nas linhas de fraqueza e planos de acabamento da rocha de estratigrafia plano-paralela, a circulação dos fluidos formaram pequenos condutos nas paredes da Lapinha. Nestas aberturas foram colocadas pelos fiéis, ao longo dos anos, diferentes imagens de santos e outros itens religiosos.
As paredes possuem coloração amarelada e camadas de quartzito micáceo branco que brilham com a entrada de luz. Esse sedimento é usado para “enfeitar” o chão da caverna em montinhos branco. “Antigamente a gente ia lá e pegava pra enfeitar o caminho todo, jogando o montinho de areia. Aquela areia ficava brilhando, passava a mão no rosto, a gente era menino, ixii… Saia todo mundo brilhando!” (Tereza, outubro de 2020).