Seu Zé e dona Nelinda trabalham intensamente também na parte baixa do terreno, onde corre o rio Peruaçu. Ali é onde vamos experimentar a mais intensa sensação de vida!
O trabalho começou com a retirada do gado que pastava da beira do rio. Depois eles iniciaram o plantio de espécies típicas, começando pelo Buriti (Mauritia flexuosa), espécie que auxilia na retenção de água no solo. Quando a palmeira atinge uma determinada altura, ela pode auxiliar no crescimento de outras plantas, ao fornecer sombra e umidade: “uma planta só cresce junto com a outra”, ele ensina.
O lírio do brejo (Hedychium coronarium) também foi plantado próximo ao rio com vistas a reter a água no solo. Apesar dos benefícios trazidos por essa planta, ele explica que o lírio é invasivo, multiplica-se extremamente rápido, e para que não prejudique as demais plantas, é preciso um trabalho rotineiro de poda.
Na ‘barranca’ do rio, ele passou a plantar o inhame, que ajuda a proteger o solo e ainda oferece seu virtuoso tubérculo como alimento. Estando o solo em boas condições, o resultado veio de forma surpreendente.
Com o passar do tempo e o auxílio das chuvas, as águas subterrâneas passaram a aflorar novamente. Pequenas veredas se formaram a partir da junção entre as raízes do Buriti e o solo, insinuando o surgimento de um oásis naquele despretensioso quintal.
Em Janeiro de 2020, haviam no quintal de Zé Torino cerca de 10 novas nascentes alimentando o rio Peruaçu com puras e cristalinas águas. Dali, estas águas desceriam em direção à região das grutas e cavernas, servindo de alimento ao sistema fluviocárstico presente no vale do rio Peruaçu.
A partir do deslocamento compulsório das “novas” águas produzidas, a vida no gerais parece também se deslocar, entrar novamente em movimento, a despeito das cercas que dividem e subtraem o espaço.
Em sua ânsia por produzir novas ‘minas’, Zé Torino parecia alimentar certo desejo, por acompanhar estas águas, ‘ver onde vai dar’. Ao oferecer condições para a ressurgência - ou seria insurgência? - do bem natural, o agricultor transmutava parte de sua subjetividade em águas móveis, livres.