COLEÇÃO DE OBJETOS
O arquivo, além de ser criado para o armazenamento também pode ser considerado como um organismo vivo, pois mesmo que ele não sofra alterações em relação ao seu conteúdo, ao acioná-lo todas as representações guardadas em nossa memória podem vir à tona e ser autor na criação de novas relações e fatos. Os objetos ali expostos possuem trajetórias do passado diferentes, mas a partir do momento em que Milton uniu todos eles em um mesmo espaço, eles passam a fazer parte da história desses grupos aos quais o colecionador pertence.
“Tudo o que colecionamos, seja o que for, precisamos matar, literalmente no caso de borboletas e besouros, metaforicamente no caso de outros objetos, que são tirados de seu ambiente, de suas funções e de sua circulação de costume, e postos num ambiente artificial, despidos de sua antiga utilidade, transformados em objetos de uma ordem diferente, mortos para o mundo. […] Ao mesmo tempo, esses objetos adquirem uma nova vida, como parte de um organismo, como parte da imagem duplicada do colecionador, entidades que fazem suas próprias relíquias, são mortos, e apesar disso, muito vivos na mente do crente, do colecionador, do devoto. Sendo assim, formam uma ponte entre nosso mundo limitado e outro, infinitamente mais rico, da história, da arte, do carisma, do sagrado – um mundo de suprema autenticidade e, portanto uma utopia profundamente romântica.” (BLOM, 2003. P.177)