Ngomas: Saravano Tambus, Peço Licença pra Meu Canto Firmá
Ridalvo Felix
A produção contínua de sistemas negros no mundo se realiza por veiculações de signos em performances diversas e complexas. Os fundamentos dessa assertiva podem ser visualizados se partirmos do pressuposto de que o ngoma será recebido por nós, considerando o que ele é e o que produz enquanto ressonância negra no universo. Assim, ngoma,termo encontrado na língua kimbundo, por exemplo, significa tambor. É utilizado nas tradições afro-brasileiras de matrizes Bantu para se referir aos tambores e às expressões de cantantes dançantes. O tambor é feito de tronco de árvore escavado, coberto com pele de animal, e sua afinação é realizada numa fogueira. Aqui, os ngomas confluem expressões que matizam e geram cantos dançados. A intenção dessa expografia (e afrografias) é entoar nossos constructos sistêmicos e epistêmicos a partir das Famílias de Ngomas dos Candombes mineiros, em que as espirais do tempo/espaço traduzem modos de ser/estar em cada uma delas. É pela inscrição dos cantos dançados dos Candombes que os sentidos anti-horários, além de outros, apontam por meio dos movimentos espiralares a possibilidade de grafitar assimetricamente, como num retorno constante – não linear e nunca do mesmo jeito –, a continuidade que temos ao ser hoje a potência que rufa os sopros de existências em relação ao que há de vir.