Paisagens do Isolamento
Daniel Mansur
O lirismo matérico na fotografia de Daniel Mansur
Sabemos que o isolamento social provocado pela pandemia manteve reclusa grande parte da população. Dentre os isolados, gente que tem uma necessidade de expressão latente para produzir arte. Esse impulso original de criação, o elã de que falava Schopenhauer ficou circunscrito ao nosso espaço de reclusão ou para usar a palavra do momento, ao nosso home office.
Assim também se deu com Daniel Mansur, o experiente fotógrafo que nos últimos anos tem se notabilizado pela fotografia de paisagem. Uma vez isolado Daniel começou a fazer experiências com a luz projetada nas paredes de sua casa e do seu estúdio, usando uma técnica que ele domina muito bem; o movimento intencional da câmera, mais conhecida por seu termo em inglês – ICM, que consiste no efeito óptico obtido por uma câmera fotográfica ajustada com a velocidade de obturação lenta, onde é possível captar efeitos de luz diáfanas, gerando imagens abstratas, criativas e artísticas, nesse processo de controle de velocidade e abertura de diafragma, em alguns casos com uso de filtros, criando efeitos que dependem significativamente da direção do movimento da câmera em relação ao objeto, bem como da velocidade do movimento.
Ao combinar fotografia e movimento Daniel consegue produzir imagens que, ao serem reveladas digitalmente, apresentam uma ampla gama de matizes. O resultado deste processo são imagens experimentais e poéticas, evidenciando o lado matérico da fotografia, a saber: registro de luz, grão na imagem, textura e ambiente transluzente. O aspecto visual resultante dessa obra se afasta um pouco do que entendemos por fotografia, para se aproximar paradoxalmente do universo da pintura. As imagens produzidas por Daniel Mansur criam um diálogo mais próximo com artistas como, por exemplo, Mark Rothko e William Turner. Uma obra onde o espectador não encontrará as características que vinculam o signo visual à percepção da realidade. Essa pesquisa que o artista desenvolve, amplia o debate estético que uma fotografia pode produzir, continuando as pesquisas produzidas por outros fotógrafos como Jacques-Henri Lartigue, um dos pioneiros dos registros dos efeitos ópticos das fotos em movimento. Com a diferença de que nos tempos de Lartigue o suporte do filme era em celulose e hoje o suporte é o sensor digital, que permite uma avaliação imediata dos registros.
O conjunto dessa pesquisa imagética realizada por Daniel Mansur resultou nesta exposição virtual. Um registro das poéticas possíveis em um ambiente de confinamento, com imagens que transmitem sensações como silêncio, roçar do vento ou cheiro desses lugares que existem apenas na obra do fotógrafo. A nós é permitida a fruição pura, solta, até mesmo ingênua e, se ainda for o caso, isolada, desse excelente registro fotográfico.
Uoster Zielinski